sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Nos bailes da vida

Um simples meio-fio de calçada na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, é até hoje um dos clubes mais consolidados do país. Sua estrutura não é feita de paredes, salões e outros ambientes sofisticados. É feita sim, e principalmente, da amizade, da música e dos sonhos que ligavam um grupo de garotos nos já distantes anos 60.

O edifício Levy, reduto da família Borges, foi o cenário onde essa amizade e cumplicidade musical nasceu. Naquele apartamento, o já tímido Bituca (Milton Nascimento) entrava pra família de D.Maricota e seu Salomão como o 12º filho da família. Isso, graças a forte amizade que tinha com os irmãos Márcio e Marilton.

O “quarto dos homens” foi o palco para as primeiras investidas daqueles garotos que desde cedo já liam Marx, Sartre, Simone de Beauvoir, Nietzche e admiravam o cinema de Truffaut. O pequeno Lô, na época ainda um menino de calças curtas, foi despertado pelas melodias inovadoras e pela voz “celestial” de Milton Nascimento. Não demorou muito para que o menino apresentasse as suas próprias composições. Eles ainda não sabiam, mas estavam formando o embrião de um movimento musical que transformaria o panorama da Musica Popular Brasileira: o Clube da Esquina.

Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges já fazem parte do imaginário coletivo quando o assunto é amizade, confraria, MPB e Minas Gerais. E a turma não se resumia aos três. O “bando” de cabeças pensantes que passou pelo desenvolvimento de país, pela ditadura militar, abertura política e a tão sonhada democracia tinha também Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Beto Guedes, Tavinho Moura, Flávio Venturini e Toninho Horta. Isso sem falar nas importantes contribuições de Wagner Tiso, Luiz Carlos Sá e Gutemberg Guarabyra e daquela que praticamente lançou a música mineira e promovia a rapaziada, a gaúcha Elis Regina.

Dessa união, nasceram dois clássicos da MPB, Clube da Esquina (1972) e Clube da Esquina 2 (1978). Canções como “Clube da Esquina nº 2”, “Manuel, o audaz”, “Todo azul do mar”, “Tudo que você podia ser” e “Paisagem da Janela” catapultaram a carreira da maioria dos integrantes do “clube” e formaram parcerias que nos emocionam até hoje. O “trem azul”, que partiu do Ed. Levy e passou pela famosa esquina ganhou o mundo e neste sábado desembarca no nosso clube da esquina, a Sociedade Ginástica de Estrela (leia na página 10). Cabe salientar que esse movimento nunca morreu. Pode até se apagar vez ou outra. Porém, sempre haverá alguém, músico ou fã que mesmo “com a roupa encharcada e a alma repleta de chão” afirmará que “todo artista tem de ir aonde o povo está” e que “cantando se disfarça e não se cansa de viver nem de cantar”


Texto publicado por Marcelo Petter na Pagina 2 – Nova Geração de 30/09/2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ufa!

Foi mal aí, Ipanêmicos. Mas cá entre nós, no fundo tu sabia que não. A gente jamais daria essa bola nas costas de vocês. O anúncio das mudanças na rádio não foi mera jogada de marketing, nem pegadinha. Foi simplesmente a Ipanema sendo a rádio livre de sempre. Livre, destemida, inconseqüente como ela sempre foi. E como sempre se orgulhou em ser.

Porque em um mundo cada vez mais medíocre e bundão, alguém tem que ter coragem. Alguém tem que tirar as pessoas da zona de conforto, da pasmaceira. Alguém tem que lembrar que a música sofreu nas mãos da ditadura militar, e hoje sofre com a ditadura do mainstream, da modinha, do mercado.

Mas agora falando sério: a Ipanema vai mudar, sim. Mas cada mundança será sempre para se tornar ainda mais Ipanema. Ainda mais N. Ainda mais maldita. Ainda mais Ovelha Negra. Música da novela? Rádio colorida? Piadinha de vô? Isso aqui é Ipanema, rapá. #sabequenão

quinta-feira, 17 de março de 2011